terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Perspectivas actuais
Relação pedagógica – relação comunicacional afectiva


Na actualidade, a relação pedagógica eficaz pressupõe a qualidade da relação interpessoal entre os professores e os alunos, por ser considerada fundamental para a aprendizagem. Vários autores se têm debruçado sobre os factores que contribuem para a qualidade da relação pedagógica, numa perspectiva comunicacional e afectiva.

Carl Rogers em Liberdade de Aprender (1969), apresentou três qualidades/atitudes que o professor, como facilitador de aprendizagens devia possuir, pois eram as condições necessárias e suficientes para a promoção da aprendizagem:
· Autenticidade ou Congruência (a capacidade de ser real, sem máscaras, nem fachadas com o aluno);
· Aceitação e Confiança ou Aceitação Incondicional Positiva (c
apacidade de aceitar a pessoa do aluno, os seus sentimentos, as suas opiniões e confiar nele sem o julgar);
· Compreensão Empática ou Empatia (capacidade de compreender as emoções que estão a viver, compreendê-lo a partir do seu quadro de referência).

Este autor propõe, assim, um modelo educativo baseado numa Aprendizagem Centrada no Aluno, no âmbito do seu modelo terapêutico - Abordagem Centrada na Pessoa -, e tem como objectivo principal permitir ao aluno uma participação activa no seu processo de aprendizagem, e no seu crescimento pessoal, no pressuposto de que esta cooperação melhora a eficácia da acção pedagógica (Fernando de Mendonça Capelo, 2000).

Actualmente considera-se que só as três condições acima referidas não são suficientes para um professor criar um clima de aprendizagem. Contudo, a qualidade da interacção humana, especialmente o grau de sinceridade e honestidade com que o professor trata os alunos continua a ser considerado da maior importância (Sprinthall,1993).
No artigo subordinado ao tema “Teoria dos Sistemas e Abordagem Centrada na Pessoa – Contributos para uma Recentragem da Comunicação na Relação Pedagógica”, Fernando Nogueira Dias (2001) considera que a relação pedagógica é um espaço pluridimensional onde é possível, apesar das diferenças nele presentes, transformá-lo num ecossistema de saberes e de afectos que permita o desenvolvimento integral dos seres humanos. Neste sentido, o autor propõe para a relação pedagógica o recurso a processos de comunicação autêntica, na acepção de Carl Rogers, que permitam criar espaços de conhecimento e de experiências, sem negar a partilha de valores e a expressão de afectos e de emoções, tão necessários à estruturação de identidade e ao reforço da auto-estima, ou seja, ao equilíbrio do professor e do aluno.
Assim, a comunicação na sala de aula, não será centrada exclusivamente no aluno, ou no professor, mas precisamente na relação entre essas mesmas pessoas, como se de um sistema se tratasse. Para isso, é necessário considerar a relação pedagógica como um todo sistémico. No entanto, perante a complexidade das diferentes variáveis que concorrem para a relação pedagógica, e como é humanamente impossível percepcioná-las e observar todas elas de uma só vez, o processo de comunicação deverá centrar-se na relação de um conjunto de pessoas em acção, constituindo este um meio que elas próprias ajudam a desenvolver, mas que também as condiciona.
Encara, assim, o professor e o aluno como sistemas abertos pois no processo de comunicação ambos são igualmente permeáveis, e por isso mesmo inter-influenciáveis. Esta inter-influência vai permitir iniciar e desenvolver a relação inter-pessoal, a qual irá originar o desenvolvimento da relação pedagógica. Se a relação pedagógica melhorar, aumentará não só a eficiência de desempenho do professor, como também o sucesso do aluno e, por consequência, a satisfação de ambos.
Existem estudos que pretendem determinar até que ponto a dimensão afectiva influi no processo de aprendizagem. Um trabalho recentemente divulgado na última obra de Sérgio A. S. Leite, “Afectividade e Práticas Pedagógicas”, (2006) revela que a actuação do professor, como mediador, determina a qualidade da relação pedagógica e a atitude que o estudante irá manter com o objecto de estudo.

Este trabalho tem como referencial teórico a perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano preconizada pelo psicólogo e educador russo Lev Vygotsky (1896-1934), segundo o qual os factores emocionais, como o afecto, influem directamente no aspecto cognitivo.


A dimensão afectiva na sala de aula transparece nas práticas pedagógicas, na organização da aula, na metodologia adoptada, no planeamento das actividades, nas posturas e conteúdos verbais, destacando-se a linguagem verbal e não verbal. Aquilo que o aluno vivencia afectivamente de forma positiva facilita o seu desenvolvimento cognitivo.

Apesar de a pesquisa revelar dados concretos sobre a importância do aspecto emocional na relação pedagógica, não se deve cair no erro de criar uma nova corrente do tipo “pedagogia do afecto”. No entanto, convém reconhecer cientificamente a importância desse aspecto em qualquer processo de aprendizagem.

Sem comentários: